quinta-feira, 11 de outubro de 2012

BRASIL: reflorestamento ou produção de alimentos?


Marinus Adrianus Sleutjes

No mundo agitado de hoje, os carros novos enchendo as cidades, a poluição do ar aumentando, a população mundial passando dos sete bilhões de pessoas , países em crises financeiras sem limites, a população querendo manter seu poder de consumo, sem saber fazer uma economia mais séria, o lixo plástico boiando nos oceanos e os lixões a céu aberto na grande maioria das cidades brasileiras. E ainda, o ar poluído sobre as grandes metrópolis causando as numerosas doenças respiratórias, as chuvas ácidas diminuindo a área foliar das plantas e causando estragos nas culturas agrícolas , os desmatamentos que chegam a 98 % em muitos países do oriente,principalmente na Indonésia . A natureza não agüenta mais.

O CAOS INSTALADO

As mudanças climáticas, tufões, tornados, tempestades, tsunames , a necessidade de mais alimentos para a humanidade, e as consequências do desmatamento estão levando o homem a um dilema: priorizar a produção de mais alimentos , ou reflorestar mais de 60% do território nacional?


Seria possível conciliar estas duas ações: produzir mais alimentos e reflorestar ao mesmo tempo? Como se pode imaginar o Brasil coberto de 65% de matas e florestas e ao mesmo tempo ser o celeiro do mundo?

Pode-se pensar ainda em comida abundante para o povo brasileiro, sobrando para a exportação e ao mesmo tempo florestas de mais de 500 milhões de hectares para a oxigenação do ar e para a sobrevivência da flora e fauna brasileira?

Este foi o dilema discutido desde 2008 até hoje pelo parlamento brasileiro para finalmente redigir o novo Código Florestal.. Estaremos perante uma lei nova, que exige em resumo, o reflorestamento que deverá recobrir 65% de todo o país,.sem perder em produção de alimentos.


A CULPA É DE TODOS



Não adianta dizer que a culpa é do produtor rural, criar ódio contra aquele que põe a comida na mesa de 200 milhões de brasileiros, e ainda cria divisas para o país através da exportação.

Há 400 anos passados, foram plantados os canaviais do Nordeste. Há 260 anos atrás os cafezais foram plantados no Estado do Rio e na Zona da Mata mineira, e para isto as matas foram derrubadas. . Quem foi? Seu Bisavô? Quem desbravou o norte do Paraná nos anos 60, hoje celeiro do Brasil? Quem foi? E tudo isto foi feito com incentivos do governo.

De 1960 para cá a população rural diminuiu de 60 par a15% do total da população. Quem hoje em dia quer permanecer trabalhando do nascer ao por do sol?

O desmatamento da Amazônia foi incentivado pelos próprios governos estaduais na década de 1970 e o fazendeiro era obrigado a desmatar 2% ao ano até deixar apenas 20% da floresta nativa. Você sabia disso? E agora a lei irá retroagir obrigando-os a reflorestar até 80 ou 90% da área comprada há 30 ou 40 anos passados.

As cidades hoje poluindo o ar, as águas, o mar, a vegetação urbana com suas indústrias, carros, esgotos, lixo , lixões, gases furando a camada de ozônio, prejudicam quanto a sobrevivência do planeta?

Construções em cima de riachos grassam no Brasil em todas as cidades, e onde deveria estar a mata ciliar dos 15 a 100 m. de largura dependendo da largura do rio, há até prédios construídos . Isto também será corrigido?

Portanto, ninguém pode jogar a primeira pedra, todos são culpados, incluindo eu e você que nunca fizemos nada disso. Somos culpados porque deixamos acontecer, vimos e ficamos calados, consentimos.

Mas isto pode mudar. Chegou a hora da união de todos para um mundo melhor. O novo Código Florestal deve ser entendido como o grande meio para salvar a natureza, contendo em parte as tempestades e tornados , regulando as precipitações e as estações do ano, e absorvendo o CO2 e liberando o oxigênio de que tanto precisa nosso pulmão.


EFICÁCIA NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.



Dos 854 milhões de hectares do solo brasileiro, 254 milhões aproximadamente estão hoje ocupados com agricultura e pastagens. 54 milhões estão ocupados com agricultura moderna, produzindo 66 bilhões de quilos de grãos a cada ano, sem considerar o algodão, e outras culturas.

A agricultura moderna praticada no Brasil é um exemplo para o mundo inteiro e muitas comissões estrangeiras vieram copiar nossas máquinas e o plantio direto que dispensa a aração e exposição do solo à radiação solar.

Estas práticas só são possíveis em áreas planas ou levemente onduladas. Estas áreas estarão impedidas pela lei em, mais de 20 % de sua área, que se transformarão em matas nativas e mais as matas ciliares ao longo dos rios e das nascentes. Serão aproximadamente QUATORZE MILHÕES DE HECTARES DE FLORESTAS a serem refeitas pelos produtores.

Sim, mas como fazer para não deixar cair a produção de alimentos depois do Código?

Mais que nunca, usar o plantio direto que deixa matéria orgânica em cobertura na razão de 30 toneladas por hectare, espaçamentos mais adequados no plantio, usar sementes melhoradas, aplicar a correção do solo e a adubação química recomendada por agrônomos especializados em cada cultura agrícola, diminuir perdas na colheita, no transporte e na armazenagem . São algumas medidas necessárias para não diminuir a produção já alcançada.

Existe outra medida, que consiste em transformar pastagens degradadas em áreas de cultivo moderno. Nestas pastagens um bovino leva dois a três anos para dar um boi de 16 a 17 arrobas, uma produção de 300 reais por hectare/ano ao passo que duas culturas agrícolas dariam 60 sacas de soja e 100 sacos de milho por ano, 6000 reais por hectare/ano.

Verifiquem que com mais 10 milhões de hectares retirados das pastagens ter-se-ia condições de o Brasil continuar a ser o celeiro do mundo.

A agricultura familiar exerce importante trabalho na produção de hortaliças, frutas, legumes, tubérculos, etc. que abastecem a mesa todo dia. Este setor se localiza mais próximo das cidades e em propriedades menores, ocupando cerca de 15 milhões de hectares (campos de futebol). Normalmente são produtores que residem no campo, com casa, pomar, pequenos animais e utilizam-se do trabalho familiar. A topografia nestas propriedades normalmente é mais acidentada e incorrem no reflorestamento ciliar, de nascentes + 20% de APP e mais a cobertura do morro, incorrendo em reflorestamento em 30 a 40 % de sua propriedade. Isto significa uma área de SEIS MILHÕES DE HECTARES a serem reflorestados por estes pequenos produtores, que em parte poderão ser plantados com árvores frutíferas o que ameniza um pouco o grande encargo.

Assim teremos ocupados com a agricultura moderna e familiar o total de 69 milhões de hectares dos quais 20 milhões de hectares estarão cobertos por matas e florestas.


PASTAGENS


As pastagens ocupam aproximadamente 175 milhões de hectares e destes, cerca de 100 milhões são pastagens nativas , sem correção do solo, e sem trato algum. Portanto áreas devolutas ou com baixa produtividade. Os outros 75 milhões de hectares se compõem de pastagens já melhoradas, artificiais, com correção do solo, adubação, espécies forrageiras melhoradas geneticamente e com produtividade muitas vezes igual à da agricultura moderna.

Nestes 175 milhões de hectares deve-se reservar, em média 30 % para reflorestamentos o que significa MAIS 52 MILHÕES DE HECTARES A SEREM REFLORESTADOS, se a lei do Código florestal for inteiramente aplicada.


EM RESUMO


Áreas produtivas do país vão colaborar com SETENTA E DOIS MILHÕES DE HECTARES de matas nativas.. O custo fica em 220 bilhões de reais, calculado a R$3.000,00 por hectare. O produtor rural arcando com toda esta despesa em reflorestamento, não irá diminuir a sua produção de alimentos?
Cabe realmente ao produtor rural arcar com esta despesa?
Desta forma, não haverá um grande êxodo rural?
As leis já podem retroagir?
O prazo de dois ou três anos para a implantação das matas será suficiente???

Estes são alguns dos problemas que envolvem a aplicação do novo Código Florestal em 270 MILHÕES DE HECTARES DO TERRITÓRIO BRASILEIRO, APENAS 30% DO PAÍS.